R. Lousa Santos
As cortinas eram
negras, as luzes estavam apagadas, totalmente apagadas. Ela estava sozinha no
palco e não conseguia enxergar nada. A solidão mexia com ela. O palco era
imenso, ela podia andar por onde quiser, porém devia tomar cuidado, em algum
lugar o palco acabava e vinha o precipício.
Numa cidade do Brasil
um casal de jovens casados comemorava.
— Sei que nosso filho
será grande. – Disse a mulher.
O marido segurava os
exames de comprovação de gravidez da esposa.
— Claro que vai. Quando
ele nascer iremos fazer uma festa que terá repercussão mundial, querida.
Ninguém ficará sem saber quem é o nosso filho.
Eles se beijam.
No México o jovem
empresário estava misturado com os outros colegas de sua classe. Todos vestidos
especialmente para a formatura. Agora eles atiravam os capelos para o ar. Podiam
dizer que eram executivos.
Seus pais olhavam para
ele se divertindo. Em seguida ele percebeu o olhar dos pais e foi abraçá-lo.
— Estou tão feliz.
Obrigado, pai, mãe.
Os planos eram imensos.
A construção de empresas, sociedades, etc. aquilo era fantástico.
Na Espanha todos os
familiares e alguns amigos se reuniram em torno da cama do adolescente que
ficara duas semanas em coma, e que já estava quase recebendo alta.
— O médico disse que
você poderá sair daqui a duas ou três semanas. – Um homem de barba mal feita.
— Não vejo a hora de
voltar para casa. – Disse o adolescente sorrindo.
Na sede da ONU vários
representantes de inúmeros países se reuniram para procurar soluções para os
problemas que talvez não conseguiam enfrentar:
— O pássaro daquela
garotinha voou para longe.
— É impossível dizer
para onde ele foi.
— Tudo indica que ele
encontrou outros do bando.
— Teremos que comprar
outro e dar de presente a ele.
— Isso!
Todos se levantaram e
começaram a bater palmas em comemoração pela bela solução encontrada.
No Egito um casal de
namorados se beijava.
— Quando vamos nos
casar? – A garota perguntou.
— Era eu que devia
fazer o pedido. – O namorado respondia sorridente.
— Mas eu não fiz o
pedido. Quero saber quando você vai fazer!
— Não sei. Pode demorar
muito, pode não demorar.
No Japão a garotinha
que passou a vida a cuidar de um lindo canarinho se viu sem ele, pois esquecera
a gaiola aberta. O presidente pessoalmente lhe entregara um novo. Mais lindo
que o primeiro.
Os olhos da garotinha
brilharam imensamente quando viu seu novo amigo.
— Obrigada, obrigada! –
Gritava ela em japonês.
O presidente contagiado
pela alegria da jovem segurou as mãos da mãe e começou a pular, logo todos
estavam juntos, pulando, alegres.
Em algum lugar do mundo
dois homens exaustos na cama olhavam um para o outro.
— Se meus amigos
descobrirem o que acabei de fazer ficaram bobos.
— Se minha mulher
descobrir o que fiz, ela me mata, pelo menos me castra.
Os dois riram.
Gargalharam.
Em outro lugar um
cientista descobre uma forma de fazer com que as árvores germinem com mais
velocidade sem prejudicar o seu desenvolvimento futuro.
Duas mulheres passeavam
de mãos dadas pela rua. Elas haviam conseguido adotar o bebê que havia lutado
tanto para isso.
Uma criança fumava pela
primeira vez uma pedra de oxi.
Físicos aprendiam a
controlar a gravidade.
Matemáticos escreviam a
fórmula matemática do amor.
O padre rezava sua
missa para os fiéis.
Traficantes morriam
baleados pela polícia especializada.
No jornal a manchete:
Abalos sísmicos sentidos em todo o mundo.
Às três horas e dois
minutos o plantão informava:
— Às 3 horas houve um
terremoto de baixa intensidade em todo o mundo ao mesmo tempo. Durou menos de
minuto, ainda não se sabe o motivo, nem o epicentro. Voltaremos a qualquer hora
com mais informações.
Crianças morriam de
fome. Pessoas morriam em guerras patrocinadas pelos países de primeiro mundo.
O papa pedia paz.
Seguidores de Gandhi
também.
Ladrões davam golpes em
pessoas inocentes.
Pessoas inocentes
matavam.
Pessoas inocentes
morriam.
Pessoas perigosas eram
presas.
Políticos roubavam e
diziam que eram inocentes, não eram presos.
Um mendigo que
encontrou uma moeda no chão foi preso, acusado de roubo.
As pessoas não faziam
nada.
A educação era uma
questão a parte. Saúde somente para quem tem dinheiro.
— Vamos casar?! –
Emoção.
— Ladrão! – Roubo.
— Socorro! – Desespero.
— Meu filho não. –
Sofrimento
— Ahhhhhhhhhh! – Prazer
— Viva, viva! – Alegria
— Isso é bom demais. –
Diversão
As luzes do palco
continuavam apagadas, mesmo assim tudo seguia a sua ordem natural.
O jornal publicava:
“Lei aprova
desmatamento na Amazônia.”
“Preço de produtos
proveniente de madeira cai.”
“Prêmio Nobel concedido
para aquele que tanto defendeu a paz.”
“Amor é uma função
linear.”
“Você pensa, ele faz.”
“Robótica alcança
recorde.”
“Provado: Deus não
existe.”
“Outro terremoto
mundial, a interrogação continua.”
“O que será?”
O palco agora
sacolejava violentamente.
A garota colocou as
mãos, vendando os olhos. Ela lutara tanto para aquilo não acontecer. Agora
aquilo acontecia.
A explosão começou no
núcleo da Terra e se espalhou, arrastando para si tudo por onde passava.
Longe dali, era
possível ver o surgimento de uma nova estrela no espaço…