quarta-feira, fevereiro 11, 2015

(Des)encontro

Em 2012, a professora Marcela Ferreira, minha professora de língua portuguesa na época, reuniu um pequeno grupo de estudantes da minha sala para estudar sobre o grande diplomata brasileiro Barão do Rio Branco. O objetivo deste grupo era produzir redações para submeter a um concurso de redações da Academia Brasileira de Letras, juntamente com a Fundação Itamaraty. Para auxiliar o estudo, a professora Marcela pediu a contribuição do professor Waldir Cardoso, professor de História. Depois do breve estudo, por causa do prazo final para submissão dos trabalhos, os trabalhos com revisão da professora Marcela foram submetido (O meu com o código de identificação 54). Período depois, tive a honra de saber que minha redação foi selecionada entre as dez melhores redações do país (não cabendo classificá-los). Participei da cerimônia de premiação e tive a imensa honra de conhecer os outros selecionados.

Sábado passado, 07/02/15, tive a infelicidade de meu computador se encher de vírus e na tentativa de limpá-lo, acabei encontrando o texto que pensava há muito ter perdido. Aqui está ele, sob o título de "(Des)encontro":

A casa era antiga e precisava de reforma e era isso que ela estava fazendo, reformando a casa. Iria eliminar uma parede para aumentar um dos cômodos da casa, entre outras coisas na estrutura.
Assim que a parede foi abaixo, o pedreiro encontrou uma caixa preta que antes estava engastada na parede. Dentro da caixa havia uma fotografia do mesmo rosto que tinha na moeda de cinquenta centavos, uma carta já amarelada e gasta pelo tempo assinada por Barão do Rio Branco e vários recortes de jornais. A mulher sabia que aquela casa pertencera a sua avó, então, por curiosidade, foi até a atual casa dela para conversar com ela.
Ao ler a carta, sua avó ficou indignada:
— Como ela teve coragem de fazer isso? Ela não tinha esse direito.
— Ela quem? E o que ela fez? - Perguntou a mulher curiosa.
— Minha avó, Maria Bernadina. Ela era apaixonada pelo Barão do Rio Branco, um dos grandes diplomatas brasileiros. Ele também era apaixonado por ela, mas tinha um compromisso com Marie Philomène Stevens e não podia assumir essa paixão, ela estava grávida e ele teve que ir para Paris. Minha avó queria guardar uma lembrança dele para sempre. Você pode ver aqui nesses jornais que ela colecionava o quanto o Barão foi importante para o Brasil. Tudo indica que essa carta se transformou em apenas uma lembrança e nunca chegou às mãos de seu destinatário, o que pode ter mudado uma linda história de amizade.
— O que aconteceu?
— Barão foi um grande diplomata brasileiro e trabalhou em muitos casos de fronteiras aqui no Brasil. Era um bom homem e tinha grandes amigos como Eça de Queirós, Machado de Assis entre outros. Rui Barbosa também era um desses grandes amigos. Quando o Barão trabalhou na Questão do Acre causou grande polêmica em todo o país. Todos queriam que o Barão levasse o caso a um arbitrariamento, mas o grande Barão sabiamente não cedeu e com negociações bilaterais entrou em acordo com a Bolívia. Rui Barbosa não gostou muito da decisão e ficou magoado. Essa carta é uma tentativa de restauração da amizade e sua tataravó não deixou que ela chegasse às mãos de Rui.
Ao reler a carta, a mulher pensou no que teria acontecido para ela não ter chegado as mãos do destinatário, o que sua tataravó teria feito para consegui-la:

Rio de Janeiro, 20 de Novembro de 1903

Caríssimo amigo, Rui Barbosa,
Escrevo-lhe humildemente com um propósito, narrar-te alguns receios meus que surgiram após alguns trabalhos meus que não ficaram do teu agrado.
É com grande fortuna e honra que eu posso dizer ser seu amigo e por este fato sinto-me em dívida contigo e sinceramente quero aquilatar nossa digna amizade que desde o nosso tempo de mocidade vem sendo penhorada dia após dia.
Durante a minha estada no estrangeiro pude trabalhar incansavelmente pela terra de meu nascimento e é por esse propósito, de continuar a trabalhar, que eu volto com a mais profunda gratidão. Sinto-me em dever com meus compatriotas, por isso, ponho toda a minha força, toda a minha energia nas lides que me foram incumbidas.
Foi com grande estima que trabalhei, buscando uma solução amigável pra com a nossa vizinha Bolívia, para que nessa guerra não haja vencidos e tampouco vencedores e é com pesar que sinto ter-lhe decepcionado. Encarecidamente, peço-te perdão se acaso fui contra os seus ideais, mas fiz o certo.
Ainda hão de provar que o que eu fiz foi o certo, amo o meu país e creio que negociações bilaterais são melhores nesse conturbado momento. O Brasil perdeu muito com o assino do Tratado de Petrópolis, todavia perderia mais com o arbitrariamento que muito nos fez ganhar.

Com meus cordiais agradecimentos,
José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco.

Maria Bernadina era grande amiga de uma empregada de seu grande amado Barão do Rio Branco. Como ele mudara… Fazia tanto tempo que eles não se viam. Ele passara tanto tempo fora, Liverpool como cônsul e trabalho e mais trabalho. Voltara para o Brasil, seu grande e belo país que tanto ele orgulhava, para trabalhar mais. Porém algo saiu errado, ouvia dizer que o Barão já não era o mesmo e falhara. Maria gostou da notícia, se ele fosse visto como incapaz ela poderia ter uma chance de fugir com ele e viver sua fantasia. Ela estava disposta a fazer tudo.
Sua amiga, a empregada, lhe informara que ele andava atormentado e escrevia algo destinado a Rui Barbosa, um amigo que também dizia que o Barão fizera o acordo errado. Barão queria reatar a amizade, e isso poderia ir contra os planos dela, ela tinha que pegar aquela carta, então incumbiu a amiga para esse trabalho.
Barão entregou a carta para a empregada assim que acordou, eram poucas palavras, mas queria apenas uma coisa, que Rui Barbosa concordasse com ele. Já era ruim ter muitos brasileiros contra ele, mas o pior é ter um amigo contra.
As ordens eram claras, entregar a carta pessoalmente a Rui Barbosa. Não foi o que aconteceu.
A empregada assim que teve em seu poder a carta do Barão foi correndo entregá-la a sua amiga, não sabia se que o que fazia era o certo. Achou que era, pelo bem da amizade.
Maria agradeceu. Pronto! Sabia que aquilo era pouco, mas que podia fazer uma grande diferença a favor de seus planos. Ela queria o Barão para si, ela teria coragem de fugir e abandonar toda sua família por ele.
Olhou para a fotografia que ela tinha em seu poder, colocou junto dela a carta e colocou em uma caixa preta, depois retirou um tampo que tinha feito na parede e a guardou. Agora era só esperar o Barão aparecer para eles fugirem.
Isso nunca aconteceu.

______ Gostaria de deixar aqui meus agradecimentos ao pequeno grupo de estudo: Vanessa Paim e Luana Morsan. Ao professor Waldir Cardoso e
agradecimento especial à professora Marcela Ferreira.______